17 de dez. de 2009

Quer não perder peso? Pergunte-me o que como

Agora você pode perguntar para qualquer um o que sempre quis saber mas tinha medo de indagar (ou vergonha). Mas só se a pessoa em questão estiver cadastrada no Formspring.me - o que é o meu caso.

Ainda não entendi qual é a "utilidade" da coisa, mas percebi o alto poder comunicação da mais nova ferramenta (leia-se instrumento de perda de horas trabalhadas). Não sei de perfis muito famosos (ouvi dizer que a Flávia Durante tem um e já sei de pedidos para que o William Bonner se cadastre).

Recomendo os seguintes respondedores:
Eva Uviedo
Mediocridade
chegalogo2112

16 de dez. de 2009

Sexo, Roberto Carlos e Tremendão

Reprodução

Saiba desde o começo que a autobiografia Minha fama de mau, do cantor e compositor Erasmo Carlos, só faz sentido se lida como complemento ao livro proibido sobre o Rei, Roberto Carlos em detalhes (de Paulo César Araújo). Embora o Tremendão não tivesse a obrigação de fazer um livro indispensável sobre sua vida, carreira e o tempo em que viveu, ele desperdiçou a oportunidade de contar detalhes mais relevantes sobre as coisas que viveu.

São 360 páginas de pequenas anedotas pelas quais passou Erasmo. Histórias que ele considera engraçadas e inusitadas (apesar de nem sempre o serem), além de elogios quase exagerados a amigos e contemporâneos – inclua-se Carlos Imperial, Tim Maia, Gal Costa, Maria Bethânia, Caetano Veloso etc.

Quem conhece bem a carreira do “número dois” da Jovem Guarda vai perceber que ele escreve em prosa como versa em seus discos: de uma maneira inocente, fazendo bom uso de clichês e escolhendo o muro quando trata de assuntos delicados. Obviamente que não poderia faltar um capítulo inteiramente dedicado ao seu eterno parceiro de composição Roberto Carlos, repleto de elogios e frases emocionadas.

Para quem leu Roberto Carlos em detalhes, não há muitas novidades em Minha fama de mau. É interessante ver Erasmo gastar inúmeras páginas discorrendo sobre sua vida sexual no começo do livro e depois jurando amor eterno a Nara, sua esposa por muitos anos. Apesar de não ser essencial para entender a música brasileira e o rock, Minha fama de mau é uma leitura divertida para quem é muito fã do Tremendão. (Diogo Rodriguez)

Minha fama de mau
Erasmo Carlos
Ed. Objetiva
360 páginas
R$ 45 (em média)

1 de nov. de 2009

Você não espera; Tom Waits

O fantástico Tom Waits colocou à disposição uma prévia do seu próximo disco, Glitter and Doom. Nada de faixinhas de 30 segundos, são oito versões ao vivo das músicas que farão parte do álbum. O lançamento nos Estados Unidos será em 24 de novembro. Confira uma das faixas, "Goin Out West".

Tom Waits - Goin Out West


Clique no aplicativo abaixo para fazer o download das oito faixas gratuitas:









Direto da fonte
: http://www.tomwaits.com

Conversa roubada


É o que acontece quando se tenta cruzar os limites do mundo anglófono globalizado. Fiz isso para concretizar a matéria sobre uma pista de tanques de guerra na Hungria.

#214 - Problematizing the evidente: ligando para a Hungria

_ hello, can i talk to someone that speaks english please?


[Publicado originalmente no excelente Problematizando o Evidente. Recomendo!]

(Flora, ladrão que rouba ladrão tem mil anos de perdão)

Ainda sobre quadrinhos


Já que esse tema parece me perseguir e ainda não consegui dar uma passada na HQMix, mais um post sobre novos quadrinhos. O Zé Rodrigui me mostrou uns álbuns novos de HQ que ele comprou e eu acabei gostando muito da revista Beleléu, do Rio de Janeiro.

Achei bem parecido com o que eu gosto do Laerte, um traço simples, colorido, com humor voltado ao trocadilho (amém Daniel Benevides) e ao quase infantil. Meu tipo de risada. Procurei no blog deles a tira do gato que vai ao bar, mas não achei. Tem algumas histórias mais artísticas e reflexivas boas também. Recomendo a primeira edição, que acabou de ser lançada.

Dê uma olhada nessa animação para saber mais ou menos do que se trata:

Direto da fonte: http://revistabeleleu.wordpress.com/

30 de out. de 2009

Novos quadrinhos

Ilustração da revista O Contínuo

Pensando em pautas para o trabalho descobri o coletivo de artistas de São Paulo O Contínuo. Um dos integrantes, o Alcimar Frazão, está ilustrando o livro de histórias infantis que meu irmão José Rodrigo escreveu. Fiz uma entrevista com o Pedro Felicio, editor, e acabei me interessando pela revista, que é muito boa está prestes a lançar seu oitavo número.

Estudo do Alcimar Frazão para o livro do Zé Rodrigo

Ainda tem um quê de fanzine dos anos 80, mas O Contínuo já mudou de nível e é de fato uma revista e das boas. Todas as edições tratam da cidade, cada uma de um jeito distinto. O traço dos quadrinistas-artistas é impressionante, acho que nunca tinha visto nada parecido no Brasil. O Laerte é um gênio, mas esses caras são artistas de verdade.

Hoje comecei a ler uma outra revista independente, a Café Espacial. Um dos editores e colaboradores, o Sérgio Chaves, mandou alguns exemplares e fiquei impressionado. Traços muito fortes, bem-feitos e fora do convencional. A Café está mais para um zine, tem textos sobre cinema, música e pequenos contos (ou crônicas, difícil de definir). Nesse fim-de-semana vão lançar o quinto número em São Paulo. Ver que o time da revista tem jornalistas, artistas gráficos, escritores, deu um certo ânimo. Publicar em um lugar visível é desejável, mas publicar é sempre bom. Espero que eles aceitem contribuições casuais.

13 de set. de 2009

El choque no se puede evitar

Ninguém sabe
Ouve-se

Hesito em pronunciar
Balbucios;
Prevejo

Ecoam sem cessar
Nos poemas
Cigarros apagados,
Copos longos, as
Partidas abstratas

Estamos e não estamos
Estou ficando surdo;
Sussurro

Doem as pernas
Mais um cigarro
E pronto:
Confissões

Capítulos deslocados
Contextos apagados
Copos longos, cigarros acesos
Lábios úmidos
Descaso

Tudo foge
Fico ali parado,
Balbucio e espero
Não escrevo
Torno a metaforizar
Baforadas
Cumplicidade

Não se sabe
De onde vem a culpa
Copos cheios
Cigarros longos
Filtros de palavras

Troco as palavras
Sinto braços
Silêncio, balbucios
Consoantes emperradas
Viro o pescoço
E olho a fumaça

Copos
Longos e vazios
Garrafas cheias
Baforadas e risadas
O silêncio sufoca a palavra
Só eu falo
Balbucio
Acendo o cigarro
Pouso o copo
Sobre a perna
Erro o elogio

Balbucio com
O corpo
Falo de menos,
Silencio

Mais um copo
Mais uma noite
Fuga
Engulo o almoço sozinho
Ao lado do espelho;
Espalho

12 de set. de 2009

Menção honrosa

Passando vergonha no trabalho

_ eu ouvi.

_ ?

_ você cantarolou o ringtone do celular que tava tocando.

_ caralho, nem percebi.

Publicado no blog Problematizando o Evidente.

11 de set. de 2009

Killian's Red



Minha amada está ensopada
Sento-me na varanda
Pergunto
Qué haces?
O cigarro gruda em meus lábios
De pronto o acendo

10 de set. de 2009

Rápida definição



Poema de Murilo Mendes, do livro História do Brasil, de 1932.

Homo Brasiliensis

O homem
É o único animal que joga no bicho.

9 de set. de 2009

Miles Davis








Ecoou pela igreja
O imprevisto

8 de set. de 2009

Alfa

Auguste Rodin, Nu, 1900-1908


Seios que não se tocam
Brilham contra a luz
Pares de peles
Contornos em fumaça
Mulheres que tentam errar o sexo
Beijam as nucas
Não sentam na sala
Ignoram

Elas deitam no mesmo quarto
Embaladas nos sonhos
De tempos antigos
Mordem as unhas e pintam os dedos
Sufocam em cabelos compridos
Em culpa futura

Recomendam-me que tenha calma
Que não há como um homem
Ser privado de ser o que
É de destino
Antigos patronos escrevem em pedras
Mulheres rebeldes discretas
Arranham em carnes

Replico poemas
Escondo estrofes
Meço as palavras
Mas o medo não cessa de
Cair de minhas mãos porque
Carrego mais do que podem levar

Elas põem os dedos em cruz com
Os lábios
Assopram
Impedem que eu continue
Os seios se tocam
Procuro abrigo com as mãos
Em concha sobre os ouvidos

Atraído
Caio de joelhos e deixo de ser
Homem
Viro uma serra
Interrompendo
Sonhos de grama
Ventos floridos

Saltos e espartilhos queimados
No fogo do fim

(08/09/09)

7 de set. de 2009

O pavão da Alameda Campinas


Alarde que se espalha pelas horas de um dígito
Ecoa pelas algas em formato de cone
O canto errado do pavão-coruja

Ele não voa, ela não grita
Empoleirados e cães de guarda
O casal de pavões anuncia a transição

Nem bem dia é, fogem cores e o sono
Grita ele, lembrando-me de algo
Agendando o começo dos novos pensamentos
Espera ela ao lado, num ângulo agudo

Na madrugada, são vultos, vultures;
Campinas a Santos, ecos que não falham
Em anunciar, em ecoar

10 de ago. de 2009

O velho guerreiro está de volta


Para quem acompanha este azul ou verde? conto que meu primeiro filho está de volta à ativa. O quase famoso Eu Garimpo está vivo novamente. Já tivemos colunas em site de internet, em fanzine e 200 acessos diários; fomos até entrevistados pelo Estadão. Acabamos entrando num coma e felizmente saímos.

Se puder, inclua nosso feed no seu Google Reader e fique sabendo do que de melhor se passa em cenas como a da Nova Inglaterra e Dublin.

Entre no Eu Garimpo [música na peneira]. Por favor...

Rock soturno da Nova Inglaterra

Este post não se trata bem de um "recomendo" porque ainda não conheço bem o artista em questão. Trata-se de um "prestem atenção se tiverem tempo, o cara deve ser legal". O nome do moço é Ian "E" Adams. Ele próprio bem definiu o que as suas três faixas disponíveis no Myspace parecem ser: Iggy Pop, Roy Orbison e - adição minha - Nick Cave. Rockabilly, punk, essas coisas boas. Tão divertido que acho que vou comprar o disco.

Amigos da cena de Boston participam do disco, como o estranho Eldridge Rodriguez (além de ser o rei da canção melodramática da Nova Inglaterra, é um dos vocalistas da banda pós-Pixies The Beatings).

Deixo aqui um link para download da faixa "Stay Up Late", que lembra o Glasvegas.

Heath Ledger além-túmulo. Mais uma vez

Hoje descobri que havia mais uma obra inédita do falecido ator-galã Heath Ledger. Além de Batman e de outro filme (qual era mesmo?), existe esse vídeo do Modest Mouse que ele dirigiu. A música se chama "King Rat". É uma animação estranha e bonita, com seres do mar protagonizando uma história mezzo nonsense. Vale a pena.

Modest Mouse - King Rat

8 de ago. de 2009

Ronnie Von e seu filho

Uma entrevista que foi bem divertida de fazer. O Ronnie Von era meu tema de TCC inicialmente, mas não deu certo. Ele falou comigo, foi prestativo, o problema foram as outras pessoas que estavam na minha lista. A idéia era fazer um especial para o Dia dos Pais, mas ficou meio em cima da hora.

O príncipe herdeiro

Ronnie Von foi contra, mas Leo Von decidiu seguir os passos de seu pai e se tornar cantor
icone postado
07.08.2009 | Texto por Diogo Rodriguez Fotos Divulgação/Reprodução

Leo Von, o "príncipe-herdeiro"

Leo Von, 22, está prestes a lançar seu primeiro disco. Ainda em fase de produção, o álbum, segundo o filho mais novo do cantor e apresentador Ronnie Von, “vai ser algo que não tem hoje no Brasil, um disco de rock bem-produzido, com músicos profissionais”. Leo parece ter herdado o talento do pai, mas não foi tão simples convencê-lo de que a música era a melhor escolha para o filho mais novo.

Quando Leo Von comunicou a Ronnie que escolhera a mesma carreira que este havia largado há décadas, o pai não se esqueceu de dizer a verdade: “Um dia, num almoço aqui em casa, [eu disse] que ia ser tragédia isso, que ele prestasse bastante atenção no que estava fazendo; essa é uma atividade profissional muito complicada.”.

Do principado à rejeição
Ronnie Von conheceu o céu e o inferno. Nos anos sessenta foi nomeado “príncipe” da Jovem Guarda e arrasou corações com seus olhos verdes e hits como “Meu Bem” e “A Praça”. Mas fez sucesso demais. Tanto, que incomodou Roberto Carlos e sofreu um “boicote” da entourage do rei, segundo suas próprias palavras. "Fui chamado de usurpador do trono." Depois, ao se envolver com o tropicalismo, ajudou a expandir os horizontes do rock brasileiro e lançou em 1967 um disco experimental psicodélico, Nº3. Foi pressionado pela gravadora a voltar ao caminho do sucesso, foi criticado pela imprensa e deixado de lado pelos ex-companheiros tropicalistas.

Abatido, passou a a atender aos pedidos do departamento comercial da gravadora e, segundo ele, não gravou “mais nada que prestasse”. “Tive de seguir, de certa forma, o trilho que me foi imposto por gravadoras, televisão. Eu nunca pude gravar ou fazer o que queria, sempre foi muito difícil” Dessa maneira, começou a colecionar os traumas que o levaram a desaprovar a decisão do filho e deixar de ser cantor.

O usurpador do trono

Não foi só o mundo do show business que não deu trégua a Ronnie. Como seu filho, ele também teve de enfrentar o descontentamento de sua família e de seu pai. Quando decidiu mudar de carreira, abandonando o emprego no banco da família para ser cantor, foi duramente repreendido numa reunião familiar, convocada às pressas porque uma tia sua ouviu o futuro herdeiro cantando no rádio: “todo mundo lá [dizendo] 'onde foi que nós erramos?', 'o menino vai jogar o nome da família na lama', 'esse ambiente é promíscuo'”, conta. Talvez a mais dura tenha sido a reação do pai, que lhe perguntou: “Por que você não vai ser jogador de futebol? O nível é o mesmo”, frase que Ronnie Von não esquece até hoje.

O baque foi forte. Não só não tinha o apoio da família, como teve de sair de casa. Mudou-se do Rio, de onde é sua família e foi para São Paulo morar no centro, no lugar que hoje se chama de Cracolândia. Ainda sem fazer sucesso, ficou “sem grana no bolso, comendo sanduíche de mortadela”.

Gerações reconciliadas
A paz entre pai e filho foi restabelecida num programa da Hebe, entre 1966 e 1967, Ronnie diz não lembrar direito da data. Sem ninguém saber, os dois foram convidados a participar no mesmo dia, e se encontraram no palco: “Foi um encontro emocionante, choradeira. A partir disso, a gente ficou muito agarrado.” E a atitude mudou. De insatisfeito, o pai passou a ser fã do filho, “fãzão”, ressalta o Príncipe.

No mesmo almoço em que Leo foi criticado por Ronnie, o patricarca da família estava presente. Ouviu o discurso em silêncio e depois o chamou: “Acabou o almoço, ele disse: preciso conversar com o senhor. Ele disse: 'Não cometa com o meu neto a imprudência que eu cometi com o senhor. Deixe que ele seja feliz e faça aquilo que ele gosta. Não fale mais nada. Não persiga mais o meu neto'”.

Assim como fez o pai, Ronnie Von também resolveu deixar de lado seus traumas. Passou a apoiar o filho Leo, que segundo ele é “extremamente talentoso”. Viu-se vencido quando parou para ouvir as composições do jovem roqueiro e acabou com ar de pai coruja: “Tenho vergonha de dizer que sou cantor perto dele. Compõe impecavelmente, toca piano, baixo, guitarra. Então, vou dizer o quê para o cara?".

Leo Von segue gravando e compondo seu disco independente, ainda sem data de lançamento definida. Formou-se em Publicidade e Propaganda e trabalha em uma das empresas do pai. Gosta do que faz, mas acredita que sua vocação é ser músico, assim como seu pai acreditava, apesar de ter sido repreendido no começo. Mas, também como seu pai, acabou conquistando seu velho e ganhando um aliado.

Vai lá: site do cantor Leo Von

Leia também a entrevista de Ronnie Von à revista Tpm, na edição 40.

4 de ago. de 2009

Namorada Roubada

Parece que a vida acontece na Paulista. Isso, a avenida. Muita gente se amontoa ali, seja pelo prazer de estar na 5ª Avenida brasileira, seja para fugir para o anel exterior de São Paulo. Não vou cair na tentação de fazer a famosa piada que diz que a vida (assim com a Paulista) começa no Paraíso e termina na Consolação). As duas (a vida e a Paulista) são o meio do caminho entre essas coisas. Já estive em todas as possibilidades de gradação entre céu e inferno na Paulista.

Mais uma vez no ônibus, em estado de alfa. É o único jeito de lidar com tanta proximidade enclausurada no meio de mais enclausuramento, dentro de veias sufocantes que desembocam em canais asfixiantes. Normalmente funciona muito bem entrar em processo de metabolismo basal e virar parte dos bancos e balaústres. Uma caixa de chapéu e uma jaqueta roxa não deixaram.

Antes de o carro esvaziar, ela já carregava a caixa, uma mochila e uma bolsa, em pé. Alheia, ou quase, como todos, mas agitada. Respirava forte e tinha cara de cansada. Devia estar querendo chegar logo, talvez não aguentasse mais aquele peso todo, talvez tivesse passado o dia inteiro fora de casa. Já ná Teodoro Sampaio eu não podia mais tirar os olhos de seu rosto.

De repente, a iminência da lotação virou corrida pela escada de três degraus; assentos ficaram vazios. Ela em pé. A caixa na mão direita, a mochila no ombro esquerdo, a bolsa atravessando os ombros e a jaqueta roxa. Pernas que não paravam no lugar. Logo à sua frente havia onde sentar. Ninguém mais estava em pé, eu via a cena mais perto do chão. Olhos cansados aqueles. O cabelo também não estava nos seus dias mais brilhantes, mais brilhosos. Mãos grandes e finas que seguravam o poste amarelo. Aquelas mãos não lixavam nada, macias e sem cor.

Nem suas pernas cansadas e aceleradas, nem a mochila que parecia pesar dez quilos. Foi para o lugar da bunda a caixa de chapéu. Preta, grande. Olhei com mais atenção para a face. Cansada, de fato, mas forte. Lábios grossos, nariz grande. Uma leve arrumada no cabelo. Fabiana, disse em voz baixa. Estuda artes e vai virar personagem de livro.

Passa o Masp, passa a galeria da sonegação de impostos, levanto-me e rezo para que Fabiana não tenha namorado. Suas pernas mexendo, se esticando, contraindo sua pressa. Lado a lado. Vou tomar um café com ela. Saber que leva um chapéu, é artista e atriz, está cansada, mas até que se sente bonita.

Um solavanco é a pista para que eu desça. Estava esperando Fabiana dizer "prazer, sou sua namorada". Que frio fazia na Paulista naquela noite. Fabiana passou seus olhos pelas minhas costas e deixou a caixa de chapéu sentada no banco do ônibus. Acendi um cigarro, guardei Fabiana e dei corda no despertador.

26 de jul. de 2009

Tensão

Em cinzeiros com a boca para baixo procuro
Em garrafas que restam, que deveriam bastar
Estão as poucas respostas;
Eco, onde

Num leve sopro de histórias mal-contadas
Estão o resumo do óbvio, do longe
Não sou a sombra que emula
Construo o ato místico que persegue
Almas, onde

Haverá o frio em tempos de resolução
Saberão meus fios lembrar do sombrio
Condeno o sorriso, casto e disposto
Raiva, onde

A qual caminho se dirige o que é justo e concreto,
Pergunta a sabedoria, mal-nascida;
Onde será, responde o que se foi
Aonde terão ido o leve acariciar e os suspiros
Falta, onde

24 de jul. de 2009

Recomendo: Forgotten Disc Friday


No espírito da sexta-feira, passo uma recomendação adequada até no nome: o blog Forgotten Disc Friday. O último dia da semana é o único em que eles postam, e sempre resgatam um disco antigo dos bons. Variam os estilos, mas geralmente é rock. Hoje, por exemplo, é a vez de Babylon by Bus, do Bob Marley & The Wailers.

Mas não se trata de simples nostalgia. São enormes os posts, que explicam o porquê do disco ter sido resgatado, o contexto em que foi lançado, e ainda se pode ouvir algumas faixas - sempre com a recomendação de que se compre o álbum. Antigamente dava para baixar todas as músicas, mas RIAA deve ter chiado.

Clique!
Forgotten Disc Friday

Ciao, Fellini

Como é de praxe, aqui vai uma matéria publicada no site da Trip. Essa é bem recente, dessa semana, terça-feira para ser bem exato.

Link original AQUI.

Mais um adeus de Fellini



Cadão Volpato discorre sobre o adeus do Fellini e a diferença entre ele e Frank Sinatra

21.07.2009 | Texto por Diogo Rodriguez Fotos Divulgação

Os paulistanos do Fellini, em foto de 1984

Os paulistanos do Fellini, em foto de 1984

Uma das principais bandas alternativas brasileiras nos anos 80, o Fellini se despede deste mundo cruel. Mais uma vez. Dessa vez parece ser definitivo, segundo o que diz Cadão Volpato (vocal e gaita) em entrevista à Trip. Ou pode ser que não, pode ser mais uma “jogada de marketing” de uma banda que sempre foi independente e deu adeus já no seu primeiro disco (O Adeus de Fellini, de 1985). A mistura de pós-punk e música brasileira tem data para acabar. Com dois shows marcados pela frente – em São Paulo no dia 22 e Curitiba no dia 26 de julho, Volpato conta que a internet foi usada para escolher o repertório e faz uma avaliação dos 25 anos de carreira da banda.

Porque o adeus derradeiro do Fellini agora? Por que não antes ou depois?
É um golpe de marketing [risos]. Brincadeira, vou explicar: a gente não toca desde 2003, quando a gente fez o TIM Festival no palco principal. Em 2007 eu fiquei pensando: “pô, vai fazer 25 anos, uma data redonda, não seria bacana a gente se encontrar?”. Somos muito cobrados ao longo dos anos, desde que [o Fellini] virou cult nos anos 90, “pô, quando é que vocês vão tocar?”, “vão voltar?”. Não se trata de uma volta, não existe essa possibilidade, não está nos planos, porque o Thomas [Pappon, baixista] mora em Londres, ele é radicado em Londres, e uma banda não existe se o principal compositor mora em Londres. É um adeus por isso, porque você nunca sabe quando vai voltar a tocar. O meu feeling é o de que dificilmente a gente vai se encontrar de novo.

Então não é de fato definitivo.
Você nunca sabe. Eu já falei que era definitivo uma seis vezes. As coisas são assim mesmo com o Fellini.

Depois de 25 anos, como foi fazer rock no Brasil?
Fazer música no Brasil é uma coisa meio difícil. Olhando para trás com um olhar mais crítico eu digo: valeu a pena ser independente do ponto de vista espiritual. Do ponto de vista financeiro é inócuo porque a gente jamais ganhou dinheiro com o Fellini. O único cachê real que tivemos na vida foi no TIM Festival. Valeu lutar por aquilo que a gente acreditava. Sempre tivemos e escrevemos exatamente o que a gente quis. Nunca houve uma pressão para que a gente fizesse assim ou assado. Fizemos exatamente o que a gente quis, com toda a liberdade possível. E liberdade é uma coisa essencial para a criação. Foi uma coisa difícil, a banda acabou muito em função disso, de tanto remar contra a maré; durante seis anos ensaiando toda a semana sem saber exatamente por quê, gravando discos com os quais não se ganhava dinheiro, fazendo contratos ridículos que não nos davam nada e não vivendo de música – que é uma opção natural no Brasil. Se a gente vivesse na Inglaterra hoje, [o Fellini] seria uma banda respeitada.

Vocês nunca cogitaram uma turnê pela Europa? Existe um público lá. Uma das suas músicas chegou a tocar no programa do John Peel [disc-jóquei da rádio BBC].

Ah, cara, a gente está batendo nos cinquenta anos, isso não existe mais. Imagine você velhinho viajando e fazendo gigs. Eu vi a turnê do David Byrne, é de rolar de rir. Ele pula de Varsóvia [capital da Polônia] pra Moscou no dia seguinte, de ônibus [uma distância de aproximadamente 1.200 quilômetros]. Meu, não rola . Imagina você tocando em uns pulgueiros em Amsterdã, nem pensar, isso não existe! A vida de músico é muito dura, a não ser que você seja o Frank Sinatra. Como eu não sou o Frank Sinatra e ele já morreu, não existe a menor possibilidade . E ainda por cima, tô resfriado, como Frank Sinatra estava quando o Gay Talese escreveu sobre ele [risos].

Cadão Volpato, vocalista do Fellini

Cadão Volpato, vocalista do Fellini

Conte a história do show ter sido montado com a colaboração dos fãs, pela internet.
Existe uma comunidade do Fellini no Orkut que fica discutindo o sexo dos anjos. Eles fizeram umas eleições das músicas favoritas e fomos lá e simplesmente pegamos [as escolhidas]. E aquelas eram de fato as mais bacanas de tocar. Escolhemos as músicas que de fato gostamos de tocar, as que não poderiam faltar e acrescentamos duas surpresas, que abrem e fecham o show e que nós só tocamos uma vez na vida. Partimos do gosto popular e enfiamos os elementos “fellinianos”.

Algum comentário a respeito do fato de que o Fellini vai “encerrar” a carreira no Studio SP, um lugar conhecido por receber música nova?
É engraçado, é um paradoxo, mas a gente sempre viveu de paradoxos [risos]. É uma característica [nossa]. Começamos dando adeus. Faz todo sentido porque é uma das melhores casa de São Paulo para tocar. Em 2005 eu inventei uma carreira solo e descobri a indigência que era tocar em São Paulo e isso não mudou muito. Ou você é grande ou você é pequeno, não existe o mediano. Então, pô, é uma dádiva ter uma casa como o Studio SP porque você tem condições, tem público, coisa rara. Passei por uns pulgueiros naquela época que eram inacreditáveis. Pensei “nunca mais, não quero mais tocar na vida”. Se você não toca no SESC, você tá frito.

Então não mudou muito em relação aos anos 80?
Nos anos 80, vou te dizer, tinha mais possibilidade. Tinha um monte de casas florescendo em cada esquina – que fechavam no dia seguinte, mas elas aconteciam. Eram lugares mais adequados ao nosso espírito, uma coisa mais punk. Agora, hoje em dia é uma indigência que não tem sentido. As casas não oferecem a menor condição, equipamento, um dinheirinho que seja de ajuda de custo. Você vai lá tocar de graça, é sempre ridículo, sempre parece que estão te fazendo um favor. Em qualquer lugar da Europa, isso não rola. Por mais que as pessoas insistam, não é uma cidade da Europa.

E vão ser só esses dois shows [em São Paulo, dia 22 de julho, e em Curitiba, dia 25]?
Nossa turnê mundial termina em Curitiba, no sábado [risos]. Lá, a gente vai tocar num festival de [bandas] independentes, o que também faz todo o sentido. Nós somos uma espécie de vovôs independentes.

Vai lá: confira os detalhes sobre as apresentações do Fellini no blog Vai Lá.

17 de jul. de 2009

Publicadas > Autorama

A pista de largada antes de uma bateria do Campeonato Paulista de Automodelismo de Fenda

Essa foi a primeira matéria pela Trip. Apesar de simples, ela me deu trabalho porque só podia ser feita aos finais-de-semana. Rodei a zona sul inteira conversando principalmente com os donos das pistas; gente brincando foi difícil de achar. Quando tinha um quarentão botando o carrinho enferrujado para correr, era um golpe de sorte. É um hobby que vai ficar ainda mais restrito. Gasta-se muito dinheiro e hoje em dia não tem a menor graça correr.

Acabei achando um campeonato para cobrir, o Paulista, que me deu personagens, mas mostrou que a coisa anda mal das pernas. A etapa que presenciei foi nos confins de São Bernardo do Campo. Não havia mais de 20 pessoas, todas do meio autoramabilístico. Estavam todos lá para correr, o público e a renda ficaram na casa do zero.

Eles não estão para brincadeira

O autorama já foi brinquedo, mas agora é coisa séria - até demais
Oito carros estão posicionados no grid de largada. Os boxes estão vazios, mas preparados para o pit stop. Em pé, os pilotos olham atentamente para o fiscal da prova, esperando o sinal para largar. Nenhuma luz se acende, e as máquinas disparam na reta em direção à primeira curva; um “valendo” faz as vezes de luz verde. Começava naquele domingo mais uma das baterias do Campeonato Paulista de Automodelismo de Fenda.
(Continue lendo)

15 de jul. de 2009

Essa merda


Os planos de pular de para-quedas em algum aniversário desses que estão por vir (no próximo ele vai, jura todo ano) escondem uma micro-história de vinte anos, talvez. Variava a idade entre os cinco e seis anos, se bem que não faz muita diferença. Ele era muito pequeno. Ficou um pouco menos criança depois desse dia, o que certamente fez contrastar seu físico (já de óculos, imagino) com as três palavras que voaram por aquele parque de não se sabe onde como se fossem bumerangues.

Tenhamos como dado que um ser de meia década de fluência vital seja iniciante em tudo o que se apresenta a sua frente. Mesmo a repetição é algo novo, já que repetir, numa vida de novidades, é algo que nunca havia acontecido antes. Já sabemos que era sua primeira vez na roda gigante. Não é possível saber com precisão o ele pensava daquilo. Provavelmente nada. O único dado devia ser o absoluto desconhecimento do que estava para acontecer. Prova disso são os bumerangues que zuniram a uns 5 metros de distância do chão de terra batida.

Pois que a roda começou sua sina. Uma vez no alto (não tão alto assim, era um parque bem mambembe), o garoto começou a somar os fatores. De uma só vez, fizeram sentido as formas aprendidas na escola e as advertências paternas a respeito de parapeitos (naquela noite, aprendeu mais de física do que em toda a vida). Spinning wheel, sempre de volta ao topo. Os pequenos óculos pararam de refletir a luz por cinco segundos:
- Para essa meeeeeeerda!

A roda lentamente virou círculo e o parque parou para olhar o quanto pequena era aquela boca-suja desesperada, tão jovem.

Ainda não pulou de para-quedas e nem fez a tatuagem.

14 de jul. de 2009

Eles apelam, mas eu gosto

Eles são feios e bobos, chatos, não

Post dedicado a Marcela Lage e Gabriela Luz

Não entendo muito bem o porquê de eu ser fã dos argentinos da Bersuit Vergarabat. No único show deles em que estive (ano passado, em Buenos Aires), lá pelas tantas aconteceu uma performance bizarra durante a canção "El Lechero" ("O Leiteiro"): um stripper vestido de leiteiro ficava simulando sexo com uma dançarina. Maior mau gosto. Ao mesmo tempo, eles fazem músicas como "Vuelos", sobre os desaparecidos durante a ditadura argentina - uma bela letra:



Ou ainda, uma puta canção pop latina com uma letra meio nonsense, "El Viejo de Arriba":



Resumindo, eles são zuados de fato, vulgares, apelativos muitas vezes, mas sabem o que estão fazendo. Tudo isso para dizer que o vocalista da banda, Gustavo "Pelado" Cordera, acabou de lançar um disco solo. Aqui está o clipe (que não é apelativo, está mais para o coxinha, outra característica da Bersuit):



Enfim, Bersuit.

Homenagem tardia ao Dia do Rock

O José Ramos Tinhorão acha que o rock, em particular sua versão brasileira, nada mais é do que um produto de dominação colonialista capitalista. Quem sou para discordar disso? Bom, tá bom, vou discordar. Pode até ser que o rock seja (ou tenha sido) mesmo um produto destinado ao consumo de uma pequena parcela da população. Mas hemos de convir, caro Tinhorão, que colocar a Tropicália e os avós de Sandy & Jr, Tony e Celly Campello, no mesmo balaio é forçar a barra:


13 de jul. de 2009

Podcast > Semana Fria


A semana começou muito fria (e pelo visto vai continuar assim) e é necessário ter música para uma situação como essa. Perdoem-me pelas referências quase literais, mas não se esqueçam de procurar pelo que não está tão evidente. Com vocês, o primeiro podcast do Azul ou Verde?:



1. Pixies - Winterlong
2. General Electrics - Frost On Your Sunglasses
3. Frank Black and The Catholics - Cold Heart of Stone
4. Therapy? - Long Distance

11 de jul. de 2009

Conversa roubada


São Paulo, em algum lugar dos anos 90.


Garoto joga futebol de botão sozinho enquanto seu irmão assiste à TV.
- Comeeeça mais uma partida do campeonato sulamericano [pronunciando sem separar as palavras, como faziam os locutores antigos]!
- Que times estão participando do seu campeonato?
- Corinthians, Palmeiras e Ponte Preta.
- Só esses?
- Só.
- Campeonato sul-americano?
- É, por que?

10 de jul. de 2009

Publicadas

Toda sexta, a partir de hoje, vou colocar uma matéria minha que tenha saído nos sites da Trip ou Tpm. Vender o peixe, so to speak.

Esse vídeo foi meu primeiro que subiu. Era uma pauta que a Ariane Abdallah iria fazer para complementar o texto dela da Tpm, mas que por força do destino caiu na minha mão. Toca ir pra São Bernardo do Campo com Tiago Brant conhecer Sagar e Gyaneshree. Não é de hoje que tenho extrema curiosidade por jeitos diferentes de levar a vida. Acabei gostando muito da história e de ter participado do vídeo. Além de trabalhar, ficamos conversando sobre yoga, música indiana e escalas modais. Descobri que tem um chá no mundo que me agrada, o tchai (agora tomo sempre que posso) e mais uma vez confirmei minha crença de que não existe maneira certa de viver. Respeito quem "escolhe" passar pela experiência do casamento arranjado. Mas tô fora.

9 de jul. de 2009

Isso é que é banda

Greil Marcus falando sobre um show de Bruce Springsteen & The E Street Band. O show ao qual ele se refere foi em 7 de julho de 1978, o texto foi publicado em 2 de julho de 1979:



Esse vídeo não é o do show mencionado, mas foi gravado no mesmo ano, 1978.


Quando Max Weinberg bate sua baqueta no aro do tambor, quase no fim de "Racing in the Street", a gente acha que pode sentir a textura da madeira; o baque do bumbo fez portas baterem na minha casa. A banda não está tocando para você, você está dentro dela, sacando as deixas de um músico para outro, entendendo pela primeira vez como o piano de Roy Bittan comanda a música, a maneira como o órgão de Danny Federici o apóia, desenhando uma história que não teria nenhum sentido sem o enquadramento de Bittan. (...) ... a sintonia deles é absoluta. Eles dão a Springsteen a liberdade de correr solto, de soltar vocais e guitarras heróicas, mas que você pode agora escutar; são acima de tudo, produto da amizade, da confiança mútua. Mesmo nos melhores discos ao vivo, os músicos geralmente soam como profissionais contratados; aqui, eles soam como criadores.

(Greil Marcus, "Ao vivo no Roxy", in A Última Transmissão, Editora Conrad, 2006)

8 de jul. de 2009

Conversa com Arnaldo Baptista


Ano passado eu estava no meio de uma pesquisa em teoria política. Estudei a relação entre a representação política e a democracia. Já não estava tão empolgado com a vida de estudos quando, do nada, um amigo jornalista me perguntou:
- Quanto tempo você acha que leva pra conseguir falar com o Arnaldo Baptista? Um dos frilas da revista deu o cano e a gente tá precisando de uma matéria. Tá a fim?

Fazia tempo que eu não pensava sobre trabalhar como jornalista, afinal, a faculdade estava trancada há mais de um ano. Disse que ia ver o que eu conseguia fazer. Em duas horas, estava com o contato dele na mão. Nem acreditei que eu possuía essa capacidade mesmo sem ser ninguém. Tremi. Porra, o Arnaldo Baptista.

Acabou que não deu certo a pauta com esse amigo. Os editores não curtiram. Mas uma outra amiga, sabendo da minha vontade, passou o contato de outra revista. Deu certo. Eu ia falar com o cara. Quem conhece a história sabe o que se passou. O resultado foi essa matéria aqui, publicada na Revista Espresso ano passado.

A fita está bem guardada. Meio sem tempo na faculdade, resolvi usar esse áudio numa aula de rádio. Ficou meio tosco, mas eu gosto da "matéria" porque ela tem trechos que ficaram de fora do perfil da Espresso. Ouça-a:

7 de jul. de 2009

CDs > Últimas aquisições

Dessa vez investi nos pianistas/tecladistas. Um é um piano hero (para mim), outro que venho descobrindo recentemente.

Dr. John - Anutha Zone

Ele é um dos maiores músicos da história do blues. Começou em New Orleans nos anos 70, cantando em creole e fazendo zydeeko com letras sujas. Incorporou o funk e gravou um dos melhores discos de todos os tempos (Right Place, Wrong Time). Dos anos 80 para cá ficou menos relevante, mas conseguiu emplacar uma sequência de álbuns muito bons nos anos 2000. Não é o caso de Anutha Zone, de 1998. Apesar de não ser de todo ruim, faltou feel, um pecado em termos de blues. A produção é bem sem-graça também. Diferente do Dr. John que eu vi no Tim Festival de 2005, destruindo tudo com uma puta banda.

Ouça um trecho de "I don't wanna know".


Stevie Wonder
- Talking Book

Há algum tempo atrás, o Stevie Wonder era para mim só um cantor coxinha que tinha feito sucesso nos anos 80. Aí eu descobri "Superstition" e percebi que um dos meus guitar heroes, Stevie Ray Vaughan, já tinha feito um cover dessa música. O disco todo é bom. Aquele timbre de teclado que rasga na faixa mais famosa de Talking Book está em todas as faixas, não tão animadas, mas muito boas também. Esse é um clássico.

Ouça "Superstition".


De lambuja, a versão de SRV para a música do Stevie Wonder:

6 de jul. de 2009

Medo de fazer perguntas


Os jornais brasileiros não analisam a crise grave pela qual está passando Honduras. Pouco adianta noticiar que houve um golpe e que o presidente deposto Zelaya está tentando voltar ao país com o apoio da OEA e, em menor grau, da ONU. Seria mais produtivo entender qual é o significado desse processo.

Para começar, houve de fato um golpe. A ordem legal foi quebrada ao se tomar a decisão de depor Zelaya. Em governos constitucionais presidencialistas o procedimento correto seria submeter o presidente ao impeachment. Formar um governo provisório com o apoio dos militares abre brechas para que se casse os direitos civis, o que de fato aconteceu em Honduras.

Raciocinou-se da seguinte maneira: Zelaya está indo contra todas as determinações legais, contra a Suprema Corte, contra o Parlamento, então o que deve ser feito é extirpar-lhe o poder. A idéia errada aí é a de que o regime é o presidente. Podre é quem governa, podre também é o modo de governar. Em países democráticos isso está errado. Um exemplo? Fernando Collor de Mello foi retirado do poder sem golpe, sem exército e sem maiores traumas para o sistema democrático brasileiro.

A sinuca de bico agora é o que diabos fazer. Parece impossível convencer os golpistas de que eles fizeram algo errado. Por outro lado, não se pode interferir nos problemas políticos de um país soberano. É necessário que haja a democracia, mas impô-la é algo essencialmente contraditório. Ainda mais se for de fora. Zelaya tem o direito de voltar não porque ele seja um exemplo de democrata (um "campeão da democracia", como diriam os americanos). Ele deve voltar para que o curso da legalidade seja reestabelecido - talvez até sofra impeachment logo em seguida.

Como resolver esse caso? Aceita-se o governo provisório e portanto o fracasso da via democrática ou viramos as costas para os golpistas e deixamos que Honduras queime em protestos? Já está claro que a população não está disposta engolir a derrubada de sua democracia, assim como posto está que o exército não vai brincar em serviço.

Não há respostas fáceis. O problema é que não estão sendo feitas as perguntas, pelo menos aqui no Brasil.

Para dar um exemplo de como acredito que a imprensa deveria agir, vejam essa entrevista (ao vivo) do embaixador de Honduras nos EUA para a CNN Internacional. Uma ótima pergunta, foi direto ao ponto. Reparem como ele não responde ao que foi perguntado. Pena que só tem esse trecho pequeno, porque a âncora colocou ele na parede depois disso:

19 de jun. de 2009

Merecia um post-it

Terça-feira à noite na Comfil. O pátio do Benê está movimentado por causa das eleições e do xerox. Vem um pessoal da sala na minha direção e começamos a conversar.

Um morcego passa rasante de quando em quando, assustando algumas pessoas. Natália é uma delas e reclama:
-Tenho medo.

Levando-a pouco a sério, digo que estou ali há meia hora e que o bicho não havia feito mal a ninguém e que não faria.

Vem a resposta da colega de classe:
- É que eu tenho bat-fobia.

Merecia um post-it.

15 de jun. de 2009

CDs > Últimas Aquisições

Acordei meio caipira hoje. Comprei dois CDs de música country (pop, mas country sim). Nada muito obscuro, dois álbuns de dois medalhões (porque até a Dolly Parton está virando hype hoje em dia):

Dixie Chicks - Taking The Long Way

Eu já tinha uma versão mezzo-legal desse CD de 2006, mas resolvi apoiar as caipiras de esquerda, porque elas merecem. Por trauma (clique AQUI pra entender), elas se afastaram uma boa medida do country. Deixaram de ser as tontinhas do Texas e viraram mulherões politizadas e bem-vestidas. Esqueça os Grammys e preste atenção nas letras amargas e pessimistas. Dá vontade de casar com todas elas - ah, Natalie...


Ouça "Taking the long way around".


Alan Jackson - The Greatest Hits Collection

O rei dos rednecks! Onze em cada três alabamanses sabiam quem o homem do bigode era. Alan Jackson, meio desconhecido por aqui, é o verdadeiro monarca da música country-pop dos anos 90. Tem gente mais interessante que ele, claro, mas as canções do velho Alan agradam à família branca-protestante-que queima cruzes toda... Bom, de fato o country é um metier conservador (exceto pelas moças acima).


Ouça "Chasin that neon rainbow", desse CD.

14 de jun. de 2009

Pensar pra fumar

Alguns lugares começaram a se preparar para a lei antifumo do governo estadual (dizem por aí). Vi dois exemplos recentemente. O boteco na frente do trabalho não impede ninguém de fumar, mas também não coloca mais cinzeiro na mesa. Bitucas acabam se espalhando pelo chão.

Hoje, no Fifties, vi que a tradicional área de fumantes está com placas de "proibido fumar" (e com o número da tal lei embaixo). Claro, não há cinzeiros e ninguém estava fumando. Aposto que se um cigarro fose aceso, os garçons iam pedir pra apagar, calmamente.

Essa lei é controversa. Impedir as pessoas de fumar em locais públicos pode parecer um acinte para quem quer tomar uma cerveja em paz. A verdade é que a fumaça do cigarro, no melhor dos casos, é malcheirosa e incômoda. Fumar, um hábito que comprovadamente é nocivo a quem é viciado e a quem está por perto, ainda é um direito, uma escolha individual; o que se fez foi proteger o bem comum de não ser prejudicado pela fumaça em detrimento da liberdade de se fumar em certos espaços públicos.

Apesar de achar um pouco exageradas as determinações (como a de não permitir nem um fumódromo com exaustores), penso que essa é uma abordagem correta para a questão. Há quem contra-argumente usando o álcool como exemplo. Uma coisa de cada vez. Trata-se de uma legislação sobre cigarro. Que se discuta o álcool em outro contexto.

Outro possível problema da lei (esse meramente procedimental) é a possibilidade de fazer denúncias por meio de fotos amadoras (de celular, etc). Claro que a fiscalização será um problema, mas não é bom que a coisa seja tão automática assim. Incentivar as denúncias é uma boa idéia, mas não sem dar direito de defesa para o estabelecimento. Criar alarmismo pode ser um problema.

A tensão aumenta a cada dia. Os fumantes estão com seus dias contados nas noitadas.

12 de jun. de 2009

Conversa roubada

Rio de Janeiro, outubro de 2005; banca de jornal em Copacabana.

(Senhora de idade; mais de 60 anos)
- Na época da ditadura é que as coisas funcionavam. Olha só o que estão fazendo com o nosso Brasil, que absurdo! Deixaram na mão desses molengas e agora está tudo se acabando. Ai, meu deus, o nosso país era tão bom...

(Jornaleiro)
- ...

(Cliente n°1)
- ...

(Cliente n°2)
- ...

Enquanto ela se afasta, vou até a estante das revistas ver para onde ela olhava enquanto falava sozinha. A capa de algum semanário declarava ser alarmante o avanço do desmatamento da Amazônia.

10 de jun. de 2009

Dia-a-dia


Quando as coisas começar a ficar bem mais divertidas.

8 de jun. de 2009

Conversa roubada


Zona Oeste; 19h20

Bem-vestido, um senhor com pelo menos setenta anos puxa conversa com o motorista na Rebouças:
- Esse cinto de segurança não deve segurar nada, não é?

O motorista diz qualquer coisa que não entendo, o motor faz muito barulho (distância da conversa:1,5m). Continua o animado ocupante do primeiro banco à direita:
- A Globo deveria mostrar esse banco que vocês têm de usar. Um absurdo!

Um marronzinho multa o táxi que tentou fazer uma conversão proibida e acabou atravancando o trânsito:
- Esse Detran só serve para dar multa, para ver a situação de vocês no ônibus eles não prestam!

Rebouças com a Paulista parada. Mais de dez minutos no mesmo farol; o cobrador oferece balas de iogurte ao motorista. Os carros mudam de faixa sem dar seta.

No primeiro ponto da Paulista, desce o senhor, carregando seus cabelos prateados. Vira-se para o motorista, com um só pé no primeiro degrau:
- Eu vou de metrô que eu chego mais rápido na Ana Rosa!

7 de jan. de 2009

PAC x BBB

O UOL e o G1 fazem especiais para as eleições americanas, para as Olimpíadas e até para o BBB, mas para o Programa de Aceleração do Crescimento (um conjunto de medidas que vai durar até 2010), não há nada. As notícias mais antigas que explicavam o que era o PAC (de 2007) foram apagadas dos portais.

Sendo algo de longo prazo e com prestações de contas constantes, seria de se esperar que veículos jornalísticos ágeis e com capacidade de armazenar informações se preocupassem em deixar disponíveis os dados desse programa do governo para consulta e pesquisa.

Mas não. Seremos obrigados a consultar apenas os relatórios oficiais ou ficar sabendo que alguma coisa deu errado. Só assim para que se preocupem em acompanhar a atuação do governo. Está errado. Se nem nós, a minoria que tem acesso à internet tem isso à disposição, o que pensar do resto do país?

Ode à morte

Consigo pensar em muitas músicas sobre a morte (a maioria delas do Pixies), mas nenhuma tão forte como Gravedigger, de Dave Matthews (sem a banda). O além-túmulo não me interessa muito. Talvez por isso eu me identifique tanto com a frase "Gravedigger, when you dig my grave/could you make it shallow so that I can feel the rain".

Além disso, ele cita um Mr. Vertigo no final da música. Não sei quantos existiram nos Estados Unidos (trapezistas, ilusionistas, em geral, pessoas que criavam a ilusão de que podiam voar), devem ter sido muitos. Gosto de pensar que o Mr. Vertigo de Matthews é o mesmo de Paul Auster, o que realmente podia voar.

Dave Matthews - Gravedigger

6 de jan. de 2009

Um Stooge a menos

Morre Ron Asheton, guitarrista dos Stooges

Músico foi encontrado morto em casa nesta terça-feira (6).
Com estilo agressivo, banda influenciou movimento punk.

Do G1, em São Paulo

Link original AQUI.

Os Stooges em 2007. (Foto: Divulgação)

Ron Asheton, guitarrista da banda proto-punk norte-americana The Stooges foi encontrado morto na sua casa nesta terça-feira (6), em Ann Arbor, nos EUA, informa o site da revista inglesa “New Musical Express”.

A polícia local disse ter encontrado o corpo do guitarrista no sofá da casa onde morava. Uma patrulha foi mandada até lá depois que o assistente de Asheton entrou em contato com a polícia, explicando que não conseguia falar com o músico há dias.

Ao lado do irmão Scott Asheton (bateria), de Dave Alexander (baixo) e do vocalista Iggy Pop, Ron formou os Stooges no final da década de 60, em Ann Arbor, cidade na região metropolitana de Detroit, Michigan. Com seu som primitivo e agressivo, os Stooges foram considerados uma das maiores influências para o movimento punk surgido na década de 70.

Além dos Stooges, Asheton tocou em bandas como New Race e Destroy All Monsters. Em uma lista com os melhores guitarristas do mundo promovida pela revista “Rolling Stone” em 2003, Asheton figurou na 29ª posição. Em 2005 voltou com os Stooges, tocando inclusive no Brasil no mesmo ano. Em 2007, a banda lançou um novo álbum, “The weiderness”.

Hum... Não!

Pra quem tem que aprender a dizer não nessa vida.
Vá direto a 1:10.

Post dedicado a Dona Mara, de Porto Seguro.

Calma, eu sei o que estou fazendo.





The Blizzards
- Trust Me, I'm a Doctor

Perfil - Arnaldo Baptista

Texto originalmente publicado na Revista Espresso dos meses de setembro, outubro e novembro.

O ROCK POPULAR BRASILEIRO DE ARNALDO BAPTISTA


Considerado um dos principais músicos e compositores dos anos sessenta, o ex-tropicalista fala sobre Gilberto Gil, sua saída dos Mutantes e suas paixões, os amplificadores valvulados

TEXTO DIOGO RODRIGUEZ

Arnaldo Dias Baptista não é um herói do rock’n’roll. Apesar de, junto com os Mutantes e na onda da Tropicália, ter criado a semente de uma proposta de música brasileira diferente de tudo que vinha sendo feito até os anos sessenta, hoje em dia ele está longe de ter o status que têm bandas como os Rolling Stones, ou mesmo de outras personalidades consagradas da MPB. Enquanto os ingleses sexagenários ainda fazem turnês milionárias e são reconhecidos pelo mundo todo e Chico Buarque lota casas de espetáculo pelo País, o ex-tecladista de uma das maiores bandas de rock do Brasil não encontra facilidade para lançar os discos de sua carreira-solo: “Eu ainda tenho falta de acesso a esse lado [às gravadoras]”.

Ele é um dos que ajudaram a plantar a influência do rock no Brasil. Nascido em São Paulo, em 6 de julho de 1948, passou a infância e a adolescência no bairro da Pompéia. Teve contato com a música desde cedo, graças aos pais, César Dias Baptista e Clarisse Leite. “Em casa, nós [Arnaldo e seus irmãos Sérgio e Cláudio César] tínhamos um envolvimento musical muito importante. Minha mãe foi a primeira mulher do mundo a compor um concerto para piano e orquestra; meu pai era poeta:, escreveu três livros. O nosso envolvimento com a arte era totalmente mundial, mas não no sentido popular”, disse. Arnaldo conta que sua preferência por rock o fazia sentir-se “como um pária, porque ouvia conjuntos do exterior e não conseguia encontrar ninguém paralelo no Brasil”. Entre seus favoritos estavam The Ventures, The Shadows e o guitarrista Duane Eddy.

DUPRAT INCENTIVOU, OITICICA BATIZOU

Até chegarem à formação mais conhecida, com Arnaldo no baixo, Sérgio na guitarra, Rita Lee no vocal e Dinho na bateria, os Mutantes tiveram vários nomes e integrantes. Esses quatro seriam os que apresentariam a composição Domingo no Parque com Gilberto Gil no 3° Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, em 1967 – e seriam vaiados pela platéia porque empunhavam instrumentos elétricos, algo considerado inadequado pelas platéias conservadoras.

A responsabilidade por introduzir o quarteto paulistano à música brasileira de maneira decisiva foi do maestro Rogério Duprat, um dos idealizadores e principais colaboradores dos tropicalistas: “Nós fomos a um programa de rádio que ele tinha na época e conhecemos a Nana Caymmi. Acompanhamos a música Bom Dia e ela nos levou para conhecer o Gilberto Gil [autor da canção]”, conta Arnaldo. Encontraram-se no Hotel Danúbio, onde o baiano morava, e assim começava o ramo musical da Tropicália. O artista plástico Hélio Oiticica foi quem primeiro usou o termo; outros nomes mais famosos do movimento eram José Celso Martinez Corrêa no teatro e José Agrippino e Torquato Neto na literatura. Os tropicalistas tinham a intenção de misturar a cultura brasileira à cultura de massa do resto do mundo, principalmente das Américas.

A intenção de dar um caráter mais universal à música nacional que Caetano Veloso e Gil tinham em mente encontrou respaldo na vontade dos Mutantes de levar adiante o rock como música brasileira: “Quando eu fui ao hotel e encontrei o Gil com a Nana Caymmi e o Jorge Ben, meu lado nacional ficou mais forte, enveredei para isso e me apeguei às origens brasileiras. Me senti mais poderoso em deixar meu lado brasileiro aparecer”. Mais brasileiro, porém sem abandonar o rock: “Nós tínhamos instrumentos de rock, sem dúvida, e era um conjunto que sempre se baseou em guitarras. O sentido de rock’n’roll [da Tropicália] foi sempre nosso”.

O rock e a irreverência das letras e apresentações levaram os Mutantes ao estrelato no final dos anos sessenta. Além de participar do disco Tropicália (1968), fizeram desfiles de moda, campanhas publicitárias, programas de televisão e tocaram na Europa, na principal feira do mercado fonográfico mundial, a Midem. Porém, nada parecido com o que outras estrelas da época experimentavam. “De uma certa forma sempre fomos deixados de lado porque éramos muito diferentes do Roberto Carlos e da Wanderléa.” E qual teria sido o impacto de um conjunto de rock na música brasileira? “Os Mutantes tentavam abranger o que não era conseguido, ou seja, enquanto havia conjuntos que imitavam os lá de fora, nós entramos na pesquisa da música brasileira.”

Depois do frisson inicial e do sucesso conseguido por canções como Ando Meio Desligado, os Mutantes encontravam cada vez mais dificuldades para se manter populares. Problemas internos como insatisfações, brigas e desentendimentos causaram a saída de integrantes ao longo dos anos. Primeiro foi Rita Lee, depois Arnaldo Baptista. Segundo ele, começavam a aparecer diferenças artísticas entre ele, o irmão, Sérgio Dias, e o resto do grupo. Em 1973 deixou a banda; no ano seguinte lançou seu primeiro disco-solo, Lóki?. O irmão mais velho, Cláudio César, construía equipamentos para serem usados em shows e gravações. “O meu irmão fazia amplificadores digitais e eu prefiro valvulado, foi por isso que eu acabei saindo dos Mutantes.” Os mesmos motivos o levaram a sair mais uma vez, após a reunião em 2006, desta vez com Sérgio Dias, Dinho Leme e Zélia Duncan.

O EQUIPAMENTO MAIS-QUE-NECESSÁRIO

A questão dos amplificadores valvulados está fortemente presente na conversa com Arnaldo. Sua absoluta predileção por esse tipo de equipamento é algo que ele sempre faz questão de frisar. Quando perguntado do porquê disso ele conta uma história “muito íntima” e “nunca publicada”. Um ou dois anos antes do término dos Mutantes, quando visitava Armando Salles em São Paulo, “audiófilo” e amigo de seu pai, ouviu um som “totalmente maravilhoso, psicodélico”, que o “preencheu”. Quando perguntou a Salles o que era aquilo, a resposta: “É que o amplificador aqui em casa é valvulado.”

Foram seis discos com os Mutantes e outros seis em carreira-solo. Arnaldo tem procurado manter-se fiel ao tipo de som que admira, de “músicos como o Tony Kaye, pianista do grupo Yes, o Nigel Olsson, baterista do Elton John, o Jack Bruce, contrabaixista do West, Bruce and Laing, o Jimmy Page, guitarrista do Led Zeppelin”, que ele “endeusa”. O esforço agora é conseguir equipar seu estúdio caseiro em Juiz de Fora (MG). “Em São Paulo eu tenho um apartamento. Era um pouco difícil porque tenho um amplificador de 40 watts. Aumentava o volume um pouquinho e o zelador já berrava pelo interfone: ‘Tá muito alto!’. Vou fazer o som de acordo com o que eu sonho, que é totalmente valvulado e com instrumentos Gibson. Então, eu tenho bateria Ludwig, tenho três teclados em casa... Eu vou deixar transparecer a diferença que existe entre o rock’n’roll bom e rock’n’roll ruim.”

Com duas músicas do próximo disco já gravadas, Arnaldo Baptista tem esperanças de conseguir fazer música exatamente do seu jeito. Neste ano, estreou na literatura com a ficção-científica Rebelde entre os Rebeldes (Editora Rocco), em que convida o leitor para uma viagem espacial: “Aventuras interplanetárias de um casal que foge da Terra e vaga pelo tempo e pelo espaço em busca de paz”. E avisa: “Vou levar adiante a minha carreira-solo, porque agora vai ser como eu quero.” Além de gravar todos os instrumentos (como já havia feito em Let It Bed, de 2005), Arnaldo está executando toda a parte técnica sozinho: “Encontrei dois gravadores profissionais nos Estados Unidos que aperto um botão e sai deles um CD pronto para ser tocado. Então eu já passei a ser independente”. Uma independência merecida, ainda que tenha demorado a chegar.