15 de jul. de 2009

Essa merda


Os planos de pular de para-quedas em algum aniversário desses que estão por vir (no próximo ele vai, jura todo ano) escondem uma micro-história de vinte anos, talvez. Variava a idade entre os cinco e seis anos, se bem que não faz muita diferença. Ele era muito pequeno. Ficou um pouco menos criança depois desse dia, o que certamente fez contrastar seu físico (já de óculos, imagino) com as três palavras que voaram por aquele parque de não se sabe onde como se fossem bumerangues.

Tenhamos como dado que um ser de meia década de fluência vital seja iniciante em tudo o que se apresenta a sua frente. Mesmo a repetição é algo novo, já que repetir, numa vida de novidades, é algo que nunca havia acontecido antes. Já sabemos que era sua primeira vez na roda gigante. Não é possível saber com precisão o ele pensava daquilo. Provavelmente nada. O único dado devia ser o absoluto desconhecimento do que estava para acontecer. Prova disso são os bumerangues que zuniram a uns 5 metros de distância do chão de terra batida.

Pois que a roda começou sua sina. Uma vez no alto (não tão alto assim, era um parque bem mambembe), o garoto começou a somar os fatores. De uma só vez, fizeram sentido as formas aprendidas na escola e as advertências paternas a respeito de parapeitos (naquela noite, aprendeu mais de física do que em toda a vida). Spinning wheel, sempre de volta ao topo. Os pequenos óculos pararam de refletir a luz por cinco segundos:
- Para essa meeeeeeerda!

A roda lentamente virou círculo e o parque parou para olhar o quanto pequena era aquela boca-suja desesperada, tão jovem.

Ainda não pulou de para-quedas e nem fez a tatuagem.

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