26 de out. de 2010

Imagem não é tudo, mas ajuda

Em primeiro lugar, este não é texto de crítico. O que me faz escrever sobre o disco "Star of Love" dos Crystal Fighters é a falta de informações disponíveis sobre a banda (supostamente) espanhola. Cansei de esperar os especialistas brasileiros esperarem a NME falar sobre eles para saber de sua existência.

Fiquei impressionado pelo som dos Crystal Fighters quando vi o clipe de "In the summer" pela primeira vez. O primeiro aspecto importante do grupo já se mostrava nesse vídeo: a preocupação com a liguagem visual. Engana-se quem pensa que se trata apenas de vender uma imagem de hippies eletrônicos - o que eles de fato são -, mas de dar forma visual ao som. E isso eles fazem perfeitamente em todos os vídeos que lançaram até agora, algo bem raro.

Ouça o disco inteiro no Soundcloud

Outro aspecto, e o mais importante, é a mistura a que os Crystal Fighters conseguiram chegar. São essencialmente eletrônicos, porém não se deixam levar pelas amarras das programações e sintetizadores. Há violões latinos no fundo de quase todas as músicas, há corais lisérgicos ecoando pelos cantos das faixas de seu primeiro disco. Vozes masculinas e femininas, apoiadas por teclados fluidos e baixos distorcidos, batidas enlouquecedoras e melodias simples e eficientes. Qualquer artista pop daria um braço para ter escrito faixas como "In the summer" e "Follow".

Nota-se ecos de MIA, de MGMT, de Pink Floyd, Daft Punk, Talking Heads. Referências costuradas de um jeito tão inteligente que elas são só referências e os Crystal Fighters tem identidade própria. Impossível confundir o som deles com o de qualquer outra banda. Agressivo e melódico, étnico e moderno, com cara de tudo e com cara do tempo em que vivemos, de imagens fugidias e múltiplas fontes de informação.

Ainda não vi/li uma entrevista com a banda. Só consegui assistir à apresentação deles no "Later with Jools Holland". E já sei que serão grandes, mesmo que não façam sucesso. Tudo o que o MGMT ensaiou fazer no primeiro disco e não conseguir fazer no segundo está realizado com excelência em "Star of love".

E não pensem que se trata de um disco pensado para poucos, um "clássico" indie. A vocação do primeiro álbum dos Crystal Fighters é a de tomar o mundo de assalto com amor, pintura corporal, barbas compridas e flores no cabelo, tudo isso dentro de alguma balada escura numa noite embalada por álcool e ecstasy. O de sempre. Mas é um pop com gosto e produção que toma uma posição e não opta por diluir o som e padronizar a banda.

Os clipes dos Crystal Fighters não estão para brincadeira, suas músicas também não. Parece que as performances ao vivo não ficam atrás e eles são uma banda com plena consciência do que uma imagem bem-trabalhada pode fazer por um artista que se pretende pop.

"Star of love" é o melhor disco pop que ouvi em tempos porque não exclui os apreciadores de boa música nem quem procura uma satisfação rápida e eficiente. Enquanto isso, os espanhóis (?) vão cravando suas raízes em lugares que, na minha opinião, ainda não existem na música pop atual.

Esse primeiro disco ainda vai render bons meses de audição, mas já se instala uma ansiedade (boa) pelo futuro da banda e por um show deles aqui. Quem sabe o Brasil não tem essa sorte? Tudo bem, não vou pedir mais do que já ganhei com os Crystal Fighters.

Saiba mais sobre os Crystal Fighters no sou daltônico, não idiota:
- Disco do semestre: Crystal Fighters


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