8 de fev. de 2011

O corpo civilizado

Sigmund Freud em O Mal-Estar na Civilização

"(..) É impossível desprezar até que ponto a civilização é construída sobre a renúncia ao instinto, o quanto ela pressupõe exatamente a não satisfação de instintos poderosos."

O homem sai do estado de natureza, uma condição insegura e incerta, porém, sem expectativas e, portanto, ansiedades (e neuroses, histerias, etc). Associa-se a outros homens para não ter mais de se preocupar com a morte iminente, mas é obrigado a renunciar à condição de animal e passa a desprezar a necessidade imediata. Torna-se, como diz Rousseau, um ser reflexivo, que este chama de condição não-natural.

Pergunto: com base no que construímos nossa sociedade, nossa civilização. Não sou hippie, mas me parece que o que diz Marília Coutinho, 47 e campeão brasileira de levantamento de peso, na Trip de fevereiro (196) não pode mais ser desprezado: "A gente vive em uma cultura que aliena nosso corpo.O indivíduo vê a mente em primeira pessoa e o corpo em terceira pessoa".

Sim, precisamos renunciar e até reprimir certos aspectos da nossa constituição "natural". Mas não devemos perder de vista que a construção feita a partir dos nossos corpos é de fato cultural, social, civilizatória. Nossa noção do corpo e do quanto ele deve ser parte (ou separado) da mente não é uma condição dada por nenhum fator irremediável. Lembremo-nos do que diz Laerte, do que escreveu Judith Butler. Vivemos um tipo de norma corporal que teve a correspondência corpórea construída por uma agenda de interesses, digamos, morais.

Cabe a nós tentar influencia, nem que seja um pouco, as novas possibilidades de apresentação e interpretação de uma verdade supostamente natural. O corpo é o suporte físico e elétrico da mente, que pode (e atualmente deve) reconstruir o corpo.

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