26 de dez. de 2012

Super8ito #16 - Promessas não cumpridas

O ano-novo se avizinha e com ele, as promessas aos montes. Determinamos novos rumos para nossa vida, esperando que o ano vindouro concretize aquelas aspirações eternas de nossos espíritos. Como as bandas da nossa edição número 16 do Super8ito, sinto informar-lhes, mas não vai rolar. São oito exemplos de como o que importa mesmo, no fim das contas, é fazer e não falar. Ou gravar. Feliz ano-novo.


21 de dez. de 2012

Espírito de Coringa


Faz algum tempo, tenho sentido que a música ficou menos interessante, mais sem-graça, mais inofensiva. Sem saber muito bem como explicar isso, nunca ousei escrever um texto a respeito, com medo de virar um daqueles caras que só consegue ver vantagens no passado.

Ontem, topei com uma frase do Charles Thompson (também conhecido como vocalista do Pixies, Frank Black e Black Francis):
Now people pursue rock music and they go, "I have something important to say, and here's what it is, and ooh, I'm singing it from my heart, too". And it's all too serious. And people totally miss out. They totally miss the fun, Jabberwocky, fun-with-language, fun-with-poetry. 

Em português:
Agora as pessoas fazem rock e ficam [dizendo], "Tenho algo importante a dizer, e aqui está, e uuu, estou cantando com meu coração". É tudo muito sério. As pessoas perdem a oportunidade. Elas ficam de fora da diversão, Jabberwocky [poema nonsense de Lewis Carroll], diversão com a linguagem, diversão com a poesia. 
O trecho vem do livro "Doolittle", escrito pelo jornalista Ben Sisario para a fantástica série 33 1/3 (que conta a história de álbuns importantes do rock).



De fato, caro Thompson, tudo é sério demais. Dá para estender isso a outros campos. Essa frase foi dita em 2004, em entrevista ao New York Times, mas continua bastante atual. Estamos perdendo o senso de humor principalmente nas artes. As coisas ficam sérias, graves e viram quase uma extensão do "coração" dos cantores, escritores, autores. Mais importante do que compor uma bela obra é que aquilo seja reflexo perfeito da personalidade do criador.

No mesmo livro, Sisario diz várias vezes que Thompson não dá muitas explicações para suas letras. "Não quer dizer nada, é só uma canção", diz o vocalista dos Pixies.

Pois é. Sempre achei que tudo que tem explicação demais ou que é muito evidente perde um tremendo valor no impacto que pode causar nas pessoas. A arte deveria servir à confusão e não ao ego de quem a produz. O Coringa concordaria.

Música para o Apocalipse


Antes que a piada acabe, darei minha contribuição à cultura do Apocalipse maia com uma belíssima música do injustiçado Sam Roberts. É o fim do mundo que ele nunca tenha vindo tocar no Brasil. A música e o disco em questão se chamam "Love At The End Of The World". Uma mensagem de esperança, portanto. Asteróides, tsunamis e zumbis não acabaram com o amor nesse fim de mundo. Chega.

20 de dez. de 2012

Super8ito #15 - Natal Deprê

A época mais deprimente do ano chegou e nós entramos no espírito com a nossa já famosa seleção que só convoca oito. Essa edição do Super8ito é perfeita para quem gosta de afogar as mágoas no Natal e não vê a hora de janeiro chegar. Encosta sua cabecinha no nosso ombra e chora, porque esse ano não vai ter brinquedo (as crianças já estão com medo).



Nova York em chamas


Uma boa parte da história da música pop dos últimos 40 anos tem a ver com Nova York. Rock artístico, rock proletário, punk, minimalismo, hip hop, disco e até a salsa tiveram na capital cultural dos EUA um lugar para crescer e se difundir pelo mundo. A lista de artistas que começaram ou se consagraram por lá é impressionante e serve como atestado da importância de Nova York: Patti Smith, Television, New York Dolls, Bruce Springsteen, Talking Heads, Blondie, Steve Reich, Philip Glass, Laurie Anderson, John Cale, Lou Reed, Grandmaster Flash, Nicky Siano, Wynton Marsalis, Anthony Braxton, Tito Puente, Rubén Blades, Celia Cruz e a lista nunca termina.

E o período entre 1973 e 1977 foi particularmente prolífico. Por isso o jornalista Will Hermes escreveu "Love Goes To Buildings On Fire" (título de uma música da banda de David Byrne), que saiu dia 8 de novembro nos EUA. Hermes não tenta explicar os motivos de tanta vida artística. Sem entrar no gênero do ensaio cultural, ele contextualiza de maneira detalhada o que estava acontecendo naquela época confusa.

Claro, ele fala dos casos de amor, das brigas, dá a data exata de shows - assim como o preço do ingresso e da cerveja -, conta os bastidores da gravação de discos e mapeia as ligações entre bandas, cantores e músicos. Porém, o retrato geral que ele faz da época que NY vivia é tão completo que o livro é indispensável para quem gosta de cultura e não só dos artistas citados no livro.

Hermes relata episódios importantes da política nova-iorquina e americana, resgata notícias sobre crimes e outros eventos relevantes que não estão diretamente ligados aos personagens principais, os músicos. Segundo o retrato que o jornalista pinta, a cidade não era tão distante da nossa São Paulo, violenta, sempre dando a sensação de que falta pouco para entrar em colapso devido à insegurança, a falta de serviços públicos, de empregos e opções de lazer.

De fato, Nova York quase foi à falência em 1975, e o então presidente Gerald Ford quase deixou a cidade na mão, ao recusar ajuda do governo federal. Eventualmente ele voltou atrás, mas ficou famosa a manchete do jornal New York Daily News repercutindo a decisão de Ford: "Ford to NY: Drop dead"(algo como, "Ford diz a NY: se vira").

Outra bola dentro do livro é assumir o envolvimento emocional do autor com seu objeto. Hermes era garoto quando tudo estava acontecendo e foi a vários dos shows, comprou discos, frequentou os bares por onde seus ídolos circulavam. Se o relato perde em objetividade, ganha ao ter a visão de um insider, alguém que morava em Nova York (no Queens, fora da ilha de Manhattan) e teve o privilégio de acompanhar o surgimento da cena.

"Love Goes To Buildings On Fire" agrada aos iniciados em história do rock pelas informações "históricas" da cidade e por juntar todas essas diferentes cenas na mesma narrativa. Para quem não conhece muito bem o assunto, o livro detalha a história de uma cidade que vivia uma tremenda crise social e política, mas, ao mesmo tempo, gerava frutos culturais que marcaram a história da música mundial.

Love Goes To Buildings On Fire
Will Hermes
US$ 9,94 na Amazon (ebook)

E aqui vai uma playlist só com um gostinho da música dessa Nova York em chamas:

19 de dez. de 2012

Seis meses no Clube das Armas


Durante o ano em que morei no Alabama, estado do sul dos EUA, vi de perto o apreço que eles têm pelas armas. Uma coisa é ler no jornal a tal da história da Segunda Emenda, que garante aos cidadãos o direito de portar armas para autodefesa, outra é entender que elas fazem da vida das pessoas.

Antes que alguém ache que estou defendendo o uso de armas, já me adianto: sou contra. Talvez houvesse menos tiroteios em escolas e faculdades caso fosse mais dfícil comprar um AR-15, uma das armas preferidas dos traficantes brasileiros.

O que talvez os nossos jornais não entendam é que para uma parcela considerável dos americanos, possuir e portar armas é um direito tão enraizado e disseminado, que qualquer ameaça a ele é vista como uma interferência inaceitável - e aqui entra também a famosa repulsa a governos que se metam demais na vida dos cidadãos, mas isso fica para outro texto.

Na minha pequena cidade, Dothan, muitos pais de família têm uma pistola ou espingarda guardada no armário, para o caso de alguém invadir sua propriedade. Caçar é um hábito comum. Pais levam filhos, amigos se reúnem para atirar em perus e cervos (os famigerados veados). É tão natural quanto o futebol de terça por aqui. A partir do momento em que se pode manusear uma arma, o jovem rapaz alabamense já aprende a atirar, compra peças de roupa camufladas e acompanha os mais velhos em caçadas. Claro, de uma maneira geral.

Não admira que vários de meus ex-colegas de escola tenham passado pelo exército. Alguns foram para o Iraque e Afeganistão. Maridos de ex-colegas de sala ainda estão por lá. Existem uma cultura antiga ligada às armas e à belicosidade, isso desde os tempos mais remotos. Os EUA já passaram por uma sangrenta Guerra Civil, não nos esqueçamos.

Eu nunca atirei, nunca tive interesse em armas, guerras ou brigas, mas quando vi as opções de clubes que a escola oferecia, não tive muita dúvida ao me inscrever no "Gun Club". O clube de espanhol, o de francês e de política eram pouco atraentes naquele contexto. Um mal-elaborado sentimento etnográfico tomou conta de mim e passei a me reunir com meus colegas fanáticos por caça e fuzis para assistir a animais sendo mortos a tiros (em vídeo) e participar de discussões sobre a tal da Segunda Emenda.

O professor responsável pelo clube era ex-militar, lutou na Guerra da Coréia e desfilava pela cidade de uniforme todo Dia do Veterano. Cogitou-se uma viagem de caça. Acabou não acontecendo, infelizmente. Mesmo que eu pudesse atirar (algo proibido pelas regras do intercâmbio, de qualquer jeito), acho que não me arriscaria. Suficiente seria participar como espectador e talvez entender um pouco melhor o porquê de tanto gosto pelas armas.

Obama está comprando uma briga muito grande ao tentar colocar restrições à compra de armas. A questão não é só de gosto. Perder o direito de se proteger, conforme acreditam os defensores da Segunda Emenda, é ir em direção à tirania. Política se mistura à cultura, ao hábito e a um modo de vida que está muito distante de Washington e Nova York. E não são poucos os dispostos a lutar pelo seu direito às armas. De longe, a resposta parece muito óbvia, mas o vespeiro é barulhento quando se chega perto.




14 de dez. de 2012

MP3 Grátis: Quatro coletâneas de gravadoras indie


No site da Noisetrade, você consegue baixar quatro compilações com faixas dos artistas de três  gravadoras indie americanas (clique nos nomes para baixar). Esse é um bom jeito de fugir um pouco (bem pouco) do que as revistas mais cool dizem que é bom ou não. Já descobri muita banda boa ovindo esses discos de amostra grátis.

Ato Records (Alabama Shakes)
Anti Records (Calexico, Dr. Dog)
Frenchkiss (Eric Copeland)
Nettwerk (Young Liars)


Música da Sexta - Nada Surf toca New Order


Quando o Nada Surf resolve fazer covers, os caras acertam. Depois de transformar "Enjoy The Silence", do Depeche Mode em uma música menos dançante e mais doce, fizeram o mesmo com "Bizarre Love Triangle", outra "dance song". Ouvindo New Order virar quase um voz e violão nos faz perceber como a banda de Peter Hook era boa.

13 de dez. de 2012

Super8ito #14 - Anarco-Punk

Lá vamos nós para uma mais uma edição do Super8ito, nosso podcast temático semanal. Nessa semana que ainda está longe o suficiente do Natal e Ano-Novo (esperem pelos nossos especiais de fim de ano!), fizemos um programa sobre bandas anarco-punk. Como sempre, são oito faixas. E dessa vez, o barulho é forte. Clique no play aí embaixo para ouvir:

Piratas do caramba



Genial a ideia de chamar o Shane MacGowan (The Pogues) para cantar uma música de corsário num álbum produzido por Johnny Depp e Gore Verbinski, ambos presentes na franquia "Piratas do Caribe". Os filmes nunca me pareceram grande coisa - também pudera, sob as luvas de pelica de Mickey Mouse e da Disney -, mas a ideia de ouvir o desdentado MacGowan, Iggy Pop, Tom Waits, Frank Zappa e outros cantando outras canções de velhos lobos do mar me parece muito mais interessante. Isso acontecerá de fato em 19 de fevereiro, data prevista para o lançamento de Son of Rogues Gallery: Pirate Ballads, Sea Songs and Chanteys. 


Shane McGowan: e uma garrafa de rum


Youtube carinhoso

IMAGEM: Wikimedia
Em março do ano que vem o Irã começa a imitar a China e lança o Mehr ("afeição", em farsi), o Youtube local. Como sua colega comunista, a teocracia islâmica vai vigiar pesadamente o serviço para que nenhum sinal de oposição o blasfêmia seja postado. Os chineses têm um clone do Twitter que é muito popular e nunca foge ao controle dos olhos atentos do governo central, o Weibo. A pergunta é: se alguém for pego no pulo postando um vídeo que desagrade ao Ahmadinejad, será tratado com carinho?

6 de dez. de 2012

Velha missão cumprida



O Soundgarden é mais um item na lista de bandas que resolveram voltar para transformar as glórias do passado em receitas do presente. Há muito no que se apoiar. Só a trinca “Badmotorfinger“ (1991), “Superunknown” (1994) e “Down On The Upside” (1996) vale pela carreira de uma dúzia de bandas que estão fazendo milhões por aí. Então faz sentido que Chris Cornell e seus amigos venham aos anos 2010 para descontar esse cheque.

E não se pode deixar de admirar o ato de coragem de voltar lançando um disco novo. Deve ser difícil tirar a ferrugem, engolir as brigas do passado e voltar a pensar como banda. Pior, colocar em risco o legado anterior, que, a rigor, é o que as pessoas vão pedir no show. Ninguém vai gritar por nenhuma das faixas novas de “Animal”. Os pulos coreografados da plateia ficarão para “Outshined”, “The Day I Tried To Live” e “Spooman”. Cornell deve saber disso. Assim mesmo insistiu e é preciso admirá-lo por isso.


“Animal” não é um disco ruim. Trata-se de um Soundgarden diluído e pasteurizado, sem dúvida, mas razoavelmente fiel ao seu “legado”, o suficiente para que mantenhamos o respeito pela banda. Tampouco é um disco desagradável. As 13 faixas passam pelo ouvinte de maneira agradável, sem incomodar. Também sem chamar muito a atenção. Resumindo, é um disco sem nada de mais.

Precisa ser todo disco o mais inesquecível de todos? Todas as bandas, artistas, pintores, escultores, poetas, jornalistas e blogueiros precisam revolucionar a todo momento? Claro que não. Essa missão fica para os gênios. E para os que têm momentos geniais e sabem aproveitá-los. O Soundgarden fez um disco que não entrará para nenhum dos anais da música. Mas tudo bem.

Os fãs não ficarão envergonhados. Para quem realmente gosta deles, talvez seja um alívio ouvir Cornell longe de seus covers de Michael Jackson e shows acústicos sem pé nem cabeça. A volta do Soundgarden não será marcada por “Animal”. Daqui a vinte anos, acho difícil que algum fã mencione alguma das faixas novas em suas memórias a respeito do show da banda. Mas tudo bem. A missão do Soundgarden já foi cumprida há XX anos. E eu também vou ficar emocionado quando eles tocarem “Outshined”.

SOUNDGARDEN
King Animal
Universal

Ouça o disco:

5 de dez. de 2012

Dave Brubeck (1920 - 2012)

Morreu hoje pela manhã o pianista de jazz Dave Brubeck. Ele tinha 91 anos e ainda estava ativo. Mesmo que não faz ideia da importância dele deve conhecer a frase da música "Take Five", do disco de mesmo nome lançado em 1959. No vídeo, Brubeck toca seu maior hit em 1961.



Nesse outro, tirado do filme "Piano Blues"(dirigido pelo Clint Eastwood para a série "Martin Scorcese Presents The Blues"), Brubeck toca a música "Audrey", observado pelo eterno Dirty Harry. 

$$$ para o filme do Bob Mould


Mito do rock alternativo, punk, sei lá o que americano, Bob Mould está pedindo grana no Kickstarter para terminar o filme que documenta o show "See a Little Light". O ex-Husker Du, ex-Sugar fez uma apresentação no ano passado para comemorar sua excepcional carreira e recebeu excepcionais convidados no palco: Dave Grohl, Britt Daniel (Spoon), No Age e Ryan Adams, entre outros. São só 17 dias até o fim do projeto e ainda falta um bom dinheiro para chegar aos US$ 95 mil pedidos. Eu já fiz a minha doação, claro! Veja abaixo o trailer do futuro filme:



Clique AQUI para doar dinheiro para o Bob Mould.


Super8ito #13 - Fazendo Hora Extra


Está na nuvem mais uma edição do podcast mais temático da rede mundial de computadores, o Super8ito. Resolvemos homenagear o vitalício arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer fazendo uma seleção de oito bandas que já estão fazendo hora extra no mundo da música. Quem imaginaria que os Rolling Stones completariam 40 anos de carreira?  E 50? O Super8ito dessa semana é uma ode à resiliência.


3 de dez. de 2012

Especial Cuarteto de Nos (Uruguai)


Excelente esse programa especial da Rádio Elétrica sobre a banda uruguaia Cuarteto de Nos. Maria Laura Vieira selecionou as melhores faixas dos 28 anos de carreira dos roqueiros. Como é de praxe, mais um grupo que passou em branco no Brasil, que não tem o costume de dar muita bola para a música dos nossos vizinhos. Nem me lembro como fiquei sabendo deles. O primeiro disco que ouvi foi o excelente Raro (2006), que recomendo como primeira incursão no universo irônico do Cuarteto.

Clique no link abaixo para ouvir ou baixar o programa:
www.radioeletrica.com/blog/?p=987

29 de nov. de 2012

Fernanda Takai na Vida Simples

Texto publicado originalmente na revista Vida Simples

FOTO: Luiz Paulo Assunção/Divulgação
Em 2007, Fernanda Takai deixou um pouco de lado o rock meio maluco do Pato Fu para emprestar sua voz a canções diferentes. “Onde Brilham os Olhos Meus” levou a vocalista ao papel de cantora, interpretando o repertório que consagrou a bossanovista fundamental Nara Leão (1942-1989). Foi uma certa surpresa ouvi-la mudar de campo de jogo, mas uma do tipo agradável.
Takai continua sua aventura pelos meandros da música brasileira, mas agora com a companhia de alguém que, como ela, é formado no rock. Melhor ainda, ex-membro de uma banda do primeiro do time, o The Police. “Fundamental” juntou Andy Summers e Fernanda Takai e fez par do rock dos anos 80 com a bossa nova. Summers ouvu o tributo de Takai a Nara, e compôs todas as faixas para a voz dela, já pensando em um disco conjunto.

Das onze faixas do disco, cinco são cantadas em português, com versões das originais de Summers feitas por Takai, John Ulhoa (seu marido e colega de Pato Fu) e Zélia Duncan. A mistura funciona. Rock e bossa-nova se equilibram sem forçar a barra para nenhum dos lados, A voz de Takai fez uma bela amizade com as seis cordas de Summers e sua bossa estrangeira.

Como você conheceu o Andy Summers?
Foi em 2009, por intermédio do Roberto Menescal que deu a ele meu primeiro disco solo. Andy gostou de minha voz e me chamou pra participar do documentário que fez sobre a influência da bossa nova na vida dele. Dois anos depois ele me mandou um email contando que já tinha escrito 18 canções pensando na minha voz e se eu gostaria de fazer um disco em dupla. Foi surpreendente.

Você é fã do The Police?
Gosto muito da banda, mas preciso confessar que sou mais fã do Duran Duran... A banda do Andy é de uma geração um pouco anterior ao rock inglês anos 80 que ouvi muito quando era adolescente: The Cure, The Smiths, EBTG, New Order, Eurythmics. Acho que ele sabe disso.

Quando aconteceu o primeiro contato?
Recebi as canções no segundo semestre do ano passado, ficamos trabalhando por email para selecionar o repertório, pois ao todo foram 25 canções que eu tinha em mãos.  Resolvi fazer as versões com Zélia e John e até minha viagem à Califórnia, fomos deixando tudo o mais acertado possível: tonalidades, ajustes em frases, andamento...


Quando começaram a trabalhar juntos?
Viajei em março deste ano, fiquei por 10 dias lá. Gravava de 10 da manhã às 7 da noite. Registrei 11 faixas em inglês, 5 em português e uma em japonês, sem contar todos os respectivos backing vocals. Trabalho intenso, mas recompensador, principalmente porque depois das sessões a gente ia comer muito bem nos restaurantes favoritos dele. Eu adoro essa parte!

Esse já é seu segundo disco como intérprete de bossanova. O rock cansa às vezes?

Qualquer estilo puro demais cansa. Na minha banda nunca fiz rock "de raiz". Acho que sempre tive elementos diferentes em nossas canções. Mas eu acho que este disco não é só de bossa nova. Tem pop, rock, jazz, baião... tudo bem misturadinho e temperado!

Foi difícil gravar com um músico que é referência no rock e na música em geral?

Não, porque ele é uma pessoa muito tranquila, faz as coisas de um jeito objetivo, pé no chão. Mesmo sendo uma lenda, dirige o próprio carro, sabe organizar o próprio dia a dia. E também, Andy me chamou pra que eu cantasse exatamente do mesmo jeito que venho fazendo há 20 anos, ou seja, me deu segurança.

Até bem pouco tempo o Brasil recebia poucos shows internacionais. Agora, temos diversos festivais e nossos artistas vêm despertando o interesse de nomes consagrados do pop mundial. Na sua opinião, ocupamos uma posição diferente na cultura mundial hoje?
O Brasil sempre foi referência de boa música, mas hoje os encontros acontecem com mais naturalidade por causa da rota de shows, da internet, da facilidade que se tem em fazer contatos com gente do mundo inteiro. As pessoas gostam de ouvir o português também. E a bossa nova sempre teve um papel importante nisso.

Sertanejo finlandês



Essa música, Nahkarouska ("chicote de couro"), é de levantar qualquer dia desanimado. Eis aqui o trio de cantoras de música folclórica (ou folk, ou tradicional etc.) da Finlândia, o Vartina, cantando sobre um homem do campo que vai de celeiro em celeiro traindo a mulher. Mas não com vacas (os animais), mas com as camponesas da região. O rapaz acaba apanhando da mulher e leva chicotadas e bengaladas. Verdadeiro sertanejo de raiz finlandês.

28 de nov. de 2012

Supercoito

Nessa semana o nosso podcast semanal esquentou. Apresentamos o Supercoito, um especial com oito faixas sobre sexo. A ideia do nome-trocadilho foi dada (no bom sentido) pelo cartunista e ilustrador Andrício de Souza, que é também o responsável pelo tema visual do nosso programa. Navegue por suas tiras enquanto ouve as nossas oitos "sex bombs": www.andriciodesouza.com


23 de nov. de 2012

Hoje é sexta - Hey Marseilles na capela



Lindo esse vídeo da banda Hey Marseilles tocando dentro de uma capela. Ouça com um bom fone porque vale a pena.

foto: @heymarseilles

Se você gostou da combinacão de violão e cordas suaves, baixe a gravacão inteira nesse link. A banda é de Seattle e vai lançar disco novo em março de 2013. No site deles tem todos os links de redes sociais: heymarseilles.com.

22 de nov. de 2012

Quem ri, alcança


Nada melhor do que voltar das férias com a cabeça fresca. Mais fresca e leve depois de assistir a essa palestra do ídolo John Cleese, o humorista inglês. Um dos gênios da área, ele explica de maneira simples os requisitos mínimos do sistema para que a criatividade tenha alguma chance de viver e sobreviver. A palestra espelha as ideias, as ideias devem ser fruto da maneira de pensar que a palestra apresenta. Pensar seriamente sobre as coisas deve sempre ter o humor como componente básico, ensina o grande contador de piadas.

7 de nov. de 2012

Férias


Este blog está em férias! Volto em duas semanas, com mais posts sobre sabe-se lá o quê.

1 de nov. de 2012

A música do ano

Me chamem de louco, mas essa para mim é a música do ano. "Olita de Altamar", dos mexicanos Café Tacvba, uma das melhores bandas latinas e do mundo. Acabou de sair o disco mais novo deles, "El Objeto Antes Llamado Disco". Não é excelente como o sensacional e clássico "Re", mas vale muito a pena.




Sr. Burns recomenda Romney


O Homer já tinha declarado voto no candidato republicano e agora seu patrão, C. Montgomery Burns, recomenda o voto em Mitt Romney. Me pergunto se, a essa altura do campeonato, as pessoas vão entender a ironia.

Aquecimento global, seu idiota


É o que o pessoal da Bloomberg Businessweek está dizendo. Coincidentemente, Michael Bloomberg, dono do conglomerado de mídia e prefeito de Nova York declarou hoje seu apoio a Obama. E o republicano e governador de Nova Jersey Chris Christie rasgou elogios à atuação do presidente para conter os danos do Sandy. É, não pegou nada bem para Mitt Romney defender o fim da agência federal que cuida de desastres, a FEMA. Na semana que vem, eleições presidenciais. 

31 de out. de 2012

Crônica de uma madrugada tempestuosa

Radcliffe Roye/The New Yorker
Talvez seja o fato de minha mãe estar em Nova York a passeio ou talvez o fato de que já morei nos EUA e tenho amigos por lá. Não sei. Quem acompanha o blog percebeu que me dediquei a ficar de olho no furacão Sandy durante os últimos dois dias. Para me sentir parte do momento e ficar mais próximo do que acontecia, criei um Storify reunindo notícias, vídeos e tweets e fiz uma edição especial do meu podcast Super8ito, dedicada ao furacão. Esse raio de obsessão serviu de lição em muitos aspectos. Boas e ruins, profundas e superficiais, práticas e inúteis.

Começo por uma das últimas coisas que percebi. Sandy já havia causado muitos danos no Caribe, em Cuba, Haiti e outros quatro países. Sessenta e oito pessoas morreram e os danos materiais foram muito grandes também. A culpa está dividida aqui. Nem eu nem "a mídia" prestamos atenção ao que já vinha acontecendo. Porque nós não prestamos atenção a isso antes? Na última segunda-feira eu acompanhei tudo em tempo real e as notícias eram dadas a cada dez minutos, senão menos. Só fiquei sabendo dos números acima, os do Caribe, porque os pesquisei hoje. Essa foi uma constatação pesada. E velha, convenhamos.

Para falar de coisa boa, ficou claro que tipo de ferramenta on-line é mais desenvolta na hora em que vento sopra forte. Disparado, o Twitter foi a melhor fonte de informações durante aquela noite, apesar de várias mentiras que circularam. O governador de Nova Jersey e o prefeito de Nova York faziam atualizações a todo instante, tentando acalmar a população e informar. Quem seguia Bloomberg no Twitter, já sabia que o número de emergência 911 estava sobrecarregado e que deveria ligar para o 311. Imagino que quem estava em casa sem luz e com o smartphone à mão, ficar de olho nos tweets deve ter sido uma ótima maneira de ficar informado.

Checando o Twitter no meio do expediente. Pode, Max?
Sim, circularam milhares de fotos e notícias falsas. Tubarões em Nova Jersey, Bolsa de Valores inundada, funcionários da companhia de energia elétrica foram algumas das mentiras daquela madrugada. Demorava pouco, porém, para surgirem desmentidos, que se não se espalhavam tão rapidamente como a versão original, ainda assim ganhavam uma respeitável repercussão. O esforço para desfazer logo os mal-entendidos foi grande. Revistas compartilharam atualizações de TVs. TVs usavam informações do Twitter (e erravam às vezes).

Outro capítulo interessante e paralelo foi o uso do Instagram. Pela primeira vez, vi esse aplicativo sendo  usado para algo que não documentar bichos de estimação, refeições ou finais de semana incríveis à beira-mar. Os filtros retrô passaram despercebidos. Amaro? Quem liga quando as imagens mostram ruas destruídas, alagadas e desoladas? Para compensar, o Facebook se mostrou lento e sem utilidade nas horas mais críticas. Deixei a rede do Mark de lado e fechei a aba.

Que conclusão se pode tirar disso? Não sei bem, mas o exercício de tentar juntar informações em um só lugar certamente deu muito mais sentido à experiência de assistir a (um lado) do furacão. Devido à própria natureza da imprensa (e da humanidade, eu diria), tudo é muito mais sensacionalista do que a realidade sugere. Nova York não estava completamente no escuro, nem totalmente embaixo d'água. Foram enormes os estragos e os perigos, sem dúvida, mas a tendência é sempre exagerar.

A internet foi vilã ou mocinha? Nenhum. Certamente foi ela um grande fator para que a passagem de Sandy por Nova York fosse melhor documentada do que a pelo Caribe, de países muito mais pobres e com pouco acesso a 3G e smartphones. Mas as câmaras de TV também não estavam lá. Não havia correspondentes brasileiros tuitando ou falando em tempo real do Haiti (que eu saiba). É nisso que devemos pensar. Não só pensar nos porquês de não cobrirmos tão bem notícias que estão muitas vezes mais próximas de nós geograficamente - quanto se ouve falar de Bolívia e Chile? - mas nos porquês de nos sentirmos mais próximos de Nova York do que de Santa Catarina.

Essa é uma pergunta que precisa ser respondida, por mim e por todos nós.



Dose dupla no Link

No caderno "Link", no Estado de S.Paulo dessa semana, saíram duas matérias minhas de uma página.

A primeira é sobre um relatório que a ONU soltou na semana passada, que mostra que os terroristas usam cada vez mais as redes sociais para planejar, financiar e executar ataques. Preocupante. Leia aqui:
http://blogs.estadao.com.br/link/terror-em-rede-mundial

Depois vem a história da Polaroid e seu dono e visionário, Edwin Land. Como diz o título da reportagem, ele era um Steve Jobs dos anos 50. Inventava os produtos e era bom de lábia. O livro do jornalista americano Christopher Bonanos conta essa história. Falei com ele, claro.
Leia: http://blogs.estadao.com.br/link/o-steve-jobs-da-era-mad-men

Dia das Bruxas (GIF)


Certeza que a Monalisa era uma bruxa. Ou um vampiro, sei lá.

29 de out. de 2012

Cobertura social do Furacão Sandy

Já deu para perceber que estou um pouco obcecado pelo furacão. Criei um Storify para acompanhar e compartilhar fotos, vídeos e notícias. Veja aí embaixo, incorporado ao post. Vou atualizando conforme as notícias vão aparecendo. Está bem assustador.



Super8ito urgente! Músicas para ouvir durante o furacão

O Sandy já chegou aos EUA e um Super8ito de emergência veio junto, com oito faixas sobre chuva, tempestades e, claro furacões! Clique no play e segure seu chapéu.

Na trilha do furacão


A qualquer momento o Sandy pode "tocar o solo".

O blogueiro Ryan Spaulding, da cidade de Boston, postou uma playlist com canções para se ouvir sob furacões e outras intempéries. Tem só artistas menos mainstream e muito bons. A única banda que eu conhecia é o Age Rings, da gravadora Midriff Records. Que bons ventos soprem sobre todos os que estão lá, com o perdão do trocadilho.

Clique aqui para ouvir a lista do Ryan. 

24 de out. de 2012

Cada dia, uma mulher histórica

Brincando de Billie Holiday

Cara, as meninas de oito anos vão dominar o planeta, ouçam o que estou dizendo. Depois da corajosa e bem-humorada Martha Payne (a blogueira escocesa que fotografa as horríveis refeições de sua escola), agora temos a cênica Stella Ehrhart, de Omaha (EUA).

Stella teve uma ideia: olhou para seu livro "As 100 mulheres mais importantes do século 20" e resolveu que iria à escola vestida como uma delas. Todos os dias. Já se vestiu de Grace Kelly, Joan Baez, a líder da oposição em Burma Aung San Suu Kyi, autora Laura Wilder.


Os professores e os colegas apoiam, e as roupas de Stella acabam virando assunto para as próprias aulas. Mas ela não se limita às figuras históricas. Vestiu-se como a diretora da escola uma vez, e foi fantasiada de uma amiga sua em outra. Seus pais, ambos envolvidos com teatro, correm para cima e para baixo arranjando os acessórios, que não podem ser muito chamativos devido às regras da escola.

Palco parece ser o lugar da pequena, que já atuou numa peça infantil e está prestes a estrear numa produção mais adulta com a mãe.

Leia aqui a matéria que o site Omaha.com fez sobre a garota.